domingo, março 03, 2013

Fiz o doce de goiaba na panela, do jeito que você gostava de dizer que era o melhor que existia, melhor que o da sua mãe, melhor que o da sua avó e de toda a geração de mulheres herdeiras da receita de família. Tá chovendo lá fora, parece noite. Uma tempestade de vento, dentro e fora. Acabou a luz. Acendi uma vela, era a última da gaveta, você precisa comprar outro pacote quando for ao mercado. Aproveitei e fiz um pedido, nunca se sabe, vai que. Prendi os cabelos naquele coque bagunçado que faz você me chamar de dona louca e vesti um jeans. Eu vim pra me despedir, mas você não sabe, ou finge que não sabe, não sei dizer. Lembra quando você me deixou pra trás sem saber explicar? Eu acho que nunca me recuperei, apesar de não doer mais com aquela intensidade nem de longe. Porque eu deixei de comer, de dormir, de raciocinar, e eu quase morri. E eu acho que você sabia, sabe? Nunca me entrou na cabeça como você pôde fazer aquilo comigo, mesmo que você tente explicar o quanto doeu em você também. No fundo eu acho isso um puta de um papo furado (desculpa se não for). Quando você me chamou cheio de amores e eu vim, eu queria sentir a sua pele pela última vez. E eu não gostei. Eu achava que fosse ser diferente, mas não tanto. Percebi que eu não te conheço mais direito, que a gente não ri mais das mesmas coisas e nem se acredita mais. Que a gente se olha nos olhos vazios, como quem encara a merda da página de esportes falando de um time que você não conhece. Então enquanto você foi trabalhar no dia de folga, pensando na sua vida, assobiando uma música triste e dizendo que voltava depois das quatro, eu apanhei minha mochila pequena e peguei o que era meu e ainda estava aqui, enquanto havia alguma esperança. Tirei suas roupas do varal pra não molhar. Não deu, moreno...
Desculpa qualquer coisa.

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