Hoje é o aniversário de uma das pessoas mais importantes da minha vida.
Deu uma vontadezinha de chorar quando sentei e fiquei algumas horas lembrando dos momentos que vivemos juntas.
Ela me entendeu desde o primeiro dia, aliás, acho que o reconhecimento e o amor vieram no primeiro contato pra nunca mais sumir.
Veio pra cá sem me conhecer pessoalmente e sem saber se eu era uma psicopata, e eu corri pra recebê-la sem saber se ela era uma louca que me mataria de madrugada. Loucas descobrimos que somos mesmo, e passamos dias divertidíssimos. Logo depois eu estava lá na terra dela, pra mais dias incríveis com a filha a tiracolo, tomando sorvete e rolando de rir de uma tiazinha esquisita simulando um boquete - sem perceber, e tb sem perceber que olhávamos e tirávamos fotos - numa bexiga em forma de... você sabe.
Algum tempo depois eu ia de mala e cuia, e moramos juntas num apartamento redondo com um corredor sinuoso e um banheiro rosa com banheira roxa e uma bichona neurótica no andar de baixo e um síndico que ia pro nosso apartamento arrumando desculpas esdrúxulas pra fumar lá dentro escondido da mulher. E ela me arrumou um emprego no mesmo lugar onde trabalhava, então morávamos e trabalhávamos juntas, e conversa nunca faltou.
E quando eu ficava deprimida demais e tinha atitudes idiotas ou não conseguia falar com ninguém, ela entendia com os olhos e eu sabia que estava em casa, que estava tudo bem. Isso só ela consegue fazer. E eu nunca me esqueço de quando desabei de chorar na escadaria do prédio e ela me abraçou e entendeu, quando a maioria das pessoas já teria me mandado tomar no cu. E foi conversar comigo na janela, quando aquele mendigo na madrugada da maior avenida de Curitiba olhou e gritou "que dar pra ele eu não queria, né?".
E muitas e muitas vezes matamos algumas horas do trabalho, saímos mais cedo e fomos tomar cervejas e falar da vida no Posto Chu - um chuchu de posto (sim, é o 'título' do posto mesmo). E ficávamos olhando o chuchu desenhado na bomba de gasolina, tomando, conversando, decidindo coisas nas nossas vidas, e voltávamos a pé pra casa, parando na frente de uma garagem pra fazer serenata, sempre.
E vinha morrendo de rir comigo das histórias do taxista Moacir, ou da cara estranha e das músicas esdrúxulas que os outros taxistas que nos levavam pra casa a uma da manhã escutavam, enquanto voltávamos do trampo.
E eu adorava sacaneá-la, como quando ela odiava um idiota do trabalho e sempre era grossa com ele na biblioteca, e quando ela saiu da sala eu confidenciei a ele que na verdade ela 'gostava dele pra caramba', e ele saiu todo feliz.
E eu ficava puta da vida com a bagunça dela em casa, as coisas espalhadas e quando ela me ligava do trabalho pedindo pra eu levar a 'blusinha tal' ou encontrar o vale táxi perdido no meio daquela zona. E ficava puta com a mania dela de falar durante os filmes que ela já conhecia e me fazia ver. "Olha olha olha! Essa parte é foda!"
Ela sempre segurou minha onda quando eu bebia demais, mas nunca deixou de zoar com a minha cara pelas merdas que eu fazia e os caras que eu pegava quando estava bêbada. Cuidou de mim como ninguém, e cuida até hoje, mesmo eu tendo voltado e a gente quase nunca conseguindo conversar.
É tão otimista que irrita, mas me faz sentir mais segura.
É tão foda que eu sei e ela sabe que vai se dar bem na vida.
É tão igual que mesmo uma sendo meio japa e a outra tendo olhos enormes, uma sendo Bjork e a outra Jolie, perguntaram inúmeras vezes se somos irmãs.
E é companheira de chafurdar pelada na piscina e sair correndo porque chegou gente, e é aquela que quando eu penso, ela fala, e vice-versa. Palavra por palavra.
E de muitas coisas, muitas, que estão gravadas com a gente, algumas que só nós sabemos e outras que dividimos com o resto do planeta, mas que não deixam de ser só nossas.
É minha melhor amiga e melhor irmã.
"Te amo família!"
Lisa: feliz aniversário, Ma-çã!**piada interna, quem sabe sabe :)
