terça-feira, novembro 03, 2009

Gattaca

Daqui a uns dias, meu pai completará 56 anos. Não me canso de pensar que quando eu nasci, ele e mamis eram dois adolescentes brincando de casinha; meu pai ainda na faculdade e achando o máximo ter pego DP de estatística porque virava as noites cuidando de mim. As revistas fazem matérias sobre pais adolescentes, mas nunca ninguém escreveu sobre os filhos de pais adolescentes!

Tá certo que isso era bem comum no tempo dos nossos bisavós, tataravós e tal, mas isso de ter filho cedissimo não é coisa do século XX, quando as mulheres começaram a trabalhar, queimaram sutiãs, garantiram seu direito ao voto e etecetera e tal.

Assim, mamis e papitous se tornaram pontos fora da curva, porque casaram cedo e tiveram filhos cedo. Tudo isso pra dizer que quando eu tinha 2 meses de idade, meu pai molhou minha chupeta na coca cola e botou na minha boca, "pra ver o que acontecia". Óbeveo que eu gostei e óbeveo que me tornei uma cocacólatra. Já pensou se ele tivesse dado vódega pra eu experimentar??? Medo.
Ele deu vinho também, mas nao gostei muito. Meus tios insistiam, e desde muito cedo, entendi que gostar de vinho fazia parte do "italian way of life".

Quando meus pais acharam que era hora de ensinar os filhos a nadar, jogavam a gente na piscina pra ver o que acontecia. Experiência genética totalis. Taca lá pra ver no que dá. E assim eu fui criada, com muita liberdade pra experimentar, mas sempre com muitas regras pra seguir, porque né? Meus pais sabiam muito bem que criar filho é tentativa e erro, e na dúvida, bota regra que fica tudo mais fácil.

Mas papitous, apesar da ranhetice, é um cara muito bacana, muito à frente do seu tempo. Durante muitos anos, era ele quem acompanhava a mim e minha irmã nas consultas com a ginecologista e quando minha irmã engravidou do meu sobrinho, era ele quem ia com ela nas consultas do pré natal, quando meu cunhado não podia ir.

Nunca exigiu que as filhas se casassem na igreja ou no civil, pelo contrário: a única exigência dele foi que escolhessemos pessoas do bem e fossemos felizes. Como ele mesmo diz, papel é só um detalhe formal e amor não precisa de formalidades.

Meu pai e eu somos, ao mesmo tempo, muito parecidos e muito diferentes. Acho que é porque ele me deu a segurança e a liberdade de experimentar coisas e viver do jeito que eu sempre achei melhor. Eu tive que brigar muito pra ele me deixar quebrar a cara, mas no fim as coisas entraram nos eixos.

E saber que posso contar com meu pai é um alento, porque ele é um grande homem, um grande pai e um grande avô. E também um grande amigo.

Feliz aniversário, papitous!

Um comentário:

Ruby Tuesday disse...

Que lindo, beibe. Parabéns pro papitous.

Parece que tbem contava um pouco de mim, nesse lance de tentativa e erro e de 'taca lá pra ver no que dá'.

E assim vamos vivendo...